
A Geração Z e seu Impacto no Mercado de Trabalho
A Geração Z, composta por indivíduos nascidos aproximadamente entre 1997 e 2012, emerge como força transformadora no mercado de trabalho brasileiro em 2025, trazendo consigo valores, expectativas e comportamentos que desafiam paradigmas estabelecidos e impulsionam mudanças significativas nas culturas organizacionais. Conforme apontado pela Forbes Brasil, esta geração representará 25% da força de trabalho global em 2025, consolidando-se como segmento demográfico de influência crescente e incontornável.
No Brasil, a entrada da Geração Z no mercado de trabalho ocorre em um contexto particularmente desafiador. Um levantamento da FGV citado pela Forbes Brasil revela que, de cada 100 pedidos de demissão feitos em 2024, 30 foram de jovens entre 18 e 24 anos, evidenciando um fenômeno que chama a atenção de especialistas em recursos humanos: esta geração está deixando o mercado de trabalho em nível recorde, contrariando expectativas e criando novos desafios para a gestão de talentos.
Cristiano Soares, country manager da Deel no Brasil, observa que “a Geração Z é também a mais propensa a tirar licenças de saúde mental”, sinalizando a urgência de políticas de bem-estar nas empresas. Esta característica reflete uma mudança fundamental na relação com o trabalho: enquanto gerações anteriores frequentemente priorizavam estabilidade e progressão de carreira mesmo à custa de sacrifícios pessoais, os jovens da Geração Z demonstram maior disposição para priorizar sua saúde mental e bem-estar geral, não hesitando em deixar ambientes que consideram tóxicos ou incompatíveis com seus valores.
A busca por propósito e significado emerge como traço distintivo desta geração. Letícia Pavim, fundadora da Rede Pavim, empresa especializada em treinar a Geração Z por meio de palestras e programas de desenvolvimento, destaca que “a Geração Z está frustrada com o mercado de trabalho, trazendo questões como a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o desejo de sentir que suas ações realmente fazem a diferença”. Esta aspiração por impacto tangível e alinhamento entre valores pessoais e organizacionais representa um desafio para empresas tradicionalmente focadas apenas em resultados financeiros e eficiência operacional.
No setor tecnológico, a Geração Z encontra um ambiente particularmente receptivo a algumas de suas características distintivas. Como nativos digitais, estes jovens profissionais trazem consigo uma fluência tecnológica natural e uma capacidade inata de adaptar-se a novas ferramentas e plataformas. Esta vantagem comparativa é especialmente valiosa em um contexto de transformação digital acelerada, onde a capacidade de aprender e aplicar novas tecnologias rapidamente torna-se diferencial competitivo crucial.
Ao mesmo tempo, a relação desta geração com a tecnologia é marcada por uma consciência crítica sobre seus impactos sociais e éticos. Questões como privacidade de dados, vieses algorítmicos, sustentabilidade digital e inclusão tecnológica frequentemente figuram entre as preocupações destes jovens profissionais, que tendem a valorizar organizações que demonstram responsabilidade e transparência em suas práticas tecnológicas.
A preferência por modelos de trabalho flexíveis constitui outro traço marcante da Geração Z. Tendo testemunhado a transição para o trabalho remoto durante a pandemia e observado seus benefícios potenciais em termos de autonomia e equilíbrio, estes profissionais frequentemente resistem a modelos rígidos de presença física no escritório. Esta expectativa colide frontalmente com a realidade de muitas empresas brasileiras que, conforme apontado pela pesquisa da Deel, ainda operam majoritariamente em regime presencial.
Marina Vaz, CEO e fundadora da Scoot, startup de serviços de experiência com o cliente e atendimento remoto, observa que “só seguro de saúde e Gympass [hoje WellHub] não colam mais. A empresa vai precisar investir em pertencimento”. Esta constatação aponta para uma transformação necessária nas estratégias de atração e retenção de talentos: benefícios tradicionais, embora ainda relevantes, não são mais suficientes para engajar uma geração que busca conexão emocional e identificação com os valores e propósitos organizacionais.
A valorização de ambientes de trabalho diversos e inclusivos também caracteriza as expectativas da Geração Z. Tendo crescido em um contexto de maior conscientização sobre questões de diversidade, equidade e inclusão, estes profissionais tendem a avaliar criticamente as práticas organizacionais nestes aspectos, valorizando empresas que demonstram compromisso genuíno com a construção de ambientes plurais e equitativos.
Um fenômeno notável relacionado à Geração Z no mercado de trabalho é sua participação crescente como “content influencers” corporativos. Conforme destacado pela Forbes Brasil, profissionais de diferentes áreas estão assumindo o protagonismo nas redes sociais de suas empresas, participando de vídeos de “look do dia” e conteúdos mostrando um dia de trabalho. Esta tendência, conhecida como EGC
(Employee Generated Content), antes limitada a redes profissionais como o LinkedIn, agora se expande para plataformas como Instagram, TikTok e YouTube, criando novas formas de conexão com públicos externos e potenciais talentos.
A relação da Geração Z com hierarquias tradicionais também apresenta características distintivas. Estes profissionais tendem a valorizar ambientes mais horizontais, onde o acesso a lideranças e a possibilidade de contribuir com ideias não são limitados por barreiras hierárquicas rígidas. Feedback constante, reconhecimento frequente e oportunidades de crescimento acelerado figuram entre suas expectativas, desafiando modelos de gestão mais tradicionais e burocráticos.
Para empresas do setor tecnológico, atrair e reter talentos da Geração Z torna-se um desafio estratégico que demanda abordagens inovadoras. Organizações bem-sucedidas neste aspecto implementam estratégias multifacetadas que incluem:
Propósito claro e impacto tangível: Comunicação efetiva da missão organizacional
e das contribuições concretas que cada função faz para objetivos maiores.- Flexibilidade e autonomia: Modelos de trabalho que privilegiam resultados sobre presença física e oferecem autonomia na gestão do tempo e das responsabilidades.
- Desenvolvimento acelerado: Oportunidades estruturadas de aprendizado, rotação entre projetos e funções, e caminhos de progressão transparentes e meritocráticos.
- Cultura de feedback: Práticas de feedback contínuo, bidirecional e construtivo, substituindo avaliações anuais por conversas frequentes de desenvolvimento.
- Bem-estar integrado: Políticas que reconhecem a pessoa integral, abrangendo saúde física, mental e financeira, e respeitando limites entre vida pessoal profissional.
- Tecnologia de ponta: Acesso a ferramentas e plataformas atualizadas que potencializam a produtividade e facilitam a colaboração.
- Diversidade e inclusão: Compromisso genuíno com a construção de ambientes diversos, equitativos e inclusivos, refletido em políticas, práticas e representatividade.
O impacto da Geração Z no mercado de trabalho tecnológico brasileiro em 2025 transcende aspectos geracionais específicos, catalisando transformações que beneficiam profissionais de todas as idades. A ênfase em propósito, flexibilidade, bem estar e desenvolvimento contínuo ressoa com aspirações compartilhadas por muitos trabalhadores, independentemente de sua faixa etária.
Ao mesmo tempo, a integração bem-sucedida desta geração em ambientes de trabalho multigeracionais apresenta desafios significativos. Diferenças em estilos de comunicação, expectativas sobre feedback e reconhecimento, e abordagens para resolução de problemas podem gerar atritos quando não adequadamente gerenciadas.
Organizações que investem em programas de mentoria reversa, onde jovens profissionais compartilham perspectivas e habilidades com colegas mais experientes, frequentemente conseguem transformar estas diferenças em vantagens competitivas, criando ambientes onde diversas perspectivas geracionais enriquecem a tomada de decisão e a inovação.
A Geração Z, portanto, não representa apenas um segmento demográfico a ser gerenciado, mas uma força catalisadora de transformações profundas no mercado de trabalho tecnológico brasileiro. Sua influência crescente desafia organizações a repensarem práticas estabelecidas e a desenvolverem culturas mais humanas, flexíveis e propositivas – mudanças que, em última análise, têm o potencial de criar ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e significativos para profissionais de todas as gerações.